O contador de histórias é uma figura ancestral, presente no imaginário
de inúmeras gerações ao longo da História. Em um universo desprovido de
recursos midiáticos, este ser era imprescindível para a formação dos
futuros adultos, conferindo às crianças, através das narrativas de
histórias, ‘causos’, mitos, lendas, entre outras, uma imagem menos
apavorante de uma realidade então povoada pelo desconhecido.Ao mesmo tempo em que amenizava os medos e uma existência
muitas vezes desfavorável, o narrador ajudava as pessoas a entenderem
melhor o que se passava a sua volta, a enfrentar os dilemas e confrontos
de natureza social e individual, extraindo das experiências o aprendizado mais profundo.
Normalmente o contador está muito presente na Era Medieval, nos
castelos tantas vezes sombrios, nas moradas mais remotas, nos povoados
disseminados pelas áreas rurais, com o objetivo de compartlhar
suas vivências e gerar em torno do grupo magnetizado por suas histórias
uma proteção gerada pelo próprio encanto do momento e pela força do
coletivo. As narrativas eram tecidas pela voz mágica do contador, ao
redor de fogueiras ou lareiras que contribuíam para criar uma atmosfera
de intensa magia.
Mas o narrador oral é ainda mais antigo, remontando
historicamente à Antiguidade greco-romana, na figura dos bardos,
responsáveis pela transmissão de histórias, lendas e poemas orais na
forma de canções. Quanto mais desconhecido era o mundo em que se vivia,
maior necessidade se tinha de povoar este universo com imagens que
pudessem, ao mesmo tempo, educar e fortalecer a coragem, predispondo as pessoas a enfrentarem os monstros, dragões e demônios que habitavam suas mentes.
O contador de histórias não era um mero reprodutor de narrativas, ele
também gerava seus relatos, simplesmente mantendo-se atento à reação
psicológica dos ouvintes. Conforme a disponibilidade ambiental, ele
improvisava e ampliava seus contos, tendo como principal instrumento a
palavra, que detém o poder de transformar o comportamento humano, como é
possível perceber na mensagem transmitida pelas 1001 Noites, onde as
histórias se entretecem para manter Scherazade viva e livre, e ao mesmo
tempo para curar o vizir, purificando seu coração do incessante desejo
de vingança contra as mulheres. Aliás, no Oriente esta tradição de curar
a psique através da narrativa de estórias é amplamente preservada pelos
psicoterapeutas.O narrador, para melhor instrumentalizar as palavras, domina, mesmo
que inconscientemente, boa parte das figuras de linguagem, de sintaxe e
de pensamento, possibilitando ao contador, antigamente uma pessoa mais
velha e sábia, magnetizar seus ouvintes, despertando no ambiente o poder
da imaginação, tecida com uma linguagem encantada, apta a transportar
as pessoas para reinos distantes e, de outra forma, inacessíveis.
Recentemente a imagem do contador de histórias retornou com força
total, principalmente na segunda metade do século XX. Inúmeras pessoas
optaram por este caminho, procurando cursos e oficinas técnicas para se
habilitarem profissionalmente. Hoje, pode-se afirmar que esta ocupação
começa a deixar as mãos de amadores para seguir na direção da
profissionalização, pois atualmente há uma demanda crescente por este
profissional, principalmente nas escolas. Algumas destas instituições
chegam a reservar um espaço no currículo escolar para este evento. Às
vezes até mesmo professores e bibliotecários são preparados para
exercerem esta tarefa no âmbito escolar.
Fonte: Ana Lúcia Santana - Info Escola / Navegando e Aprendendo
http://pontodeencontro.proinfo.mec.gov.br/O_Contador_de_Historias.pdf
Rinah Meireles
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